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日本の方言 - A Variação Dialetal no Japão


Wadison Melo


1) A variação lingüística

Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variações. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. Língua e variação são inseparáveis (Alkmim, Tânia Maria, p.33).

As diferenças lingüísticas são motivadas por diversos fatores, tais como diferenças de ordem socioeconômica, como nível de renda familiar e grau de escolaridade. Por exemplo, podemos observar alguns traços que caracterizam o desempenho verbal de indivíduos pertencentes a baixos estratos socioculturais na pronúncia mais ou menos generalizada da redução e desnalisação do ditongo /eyN/ em posição de sílaba átona final, como se observa em palavras como “homem”, pronunciada “homi”; “devem”, pronunciada “devi”. Outro traço é o cancelamento do fonema /s/, também em posição de sílaba átona final, observável em palavras como “vamos”, pronunciada “vamo”, e em sintagmas nominais pluralizados, como “os meninos”, pronunciado “os menino”. As diferenças de ordem sociobiológica, como idade e sexo, também motivam as diferenças lingüísticas. Dizer “toalete”, “reservado”, “banheiro”, “wc” ou “sanitário”, é um exemplo disso. Pode-se considerar que essas diferentes palavras se dividem em seu uso em uma escala de faixas etárias: os jovens diriam “banheiro”, seus pais “wc” e seus avós “reservados”, por exemplo. Ou que se dividem segundo o sexo dos falantes, os homens diriam mais “banheiro” e “wc” e as mulheres, “toalete” e “reservado”. Além disso, também temos variação motivada por diferenças na origem geográfica: a mesma língua pode ser pronunciada diferentemente, ou ter um léxico diferente em diferentes pontos do território. Em certas regiões do sul do Brasil, pronuciam-se como médias as vogais em posição átona final, como no sintagma nominal “leite quente”, que, em outras regiões, aparecem como altas, “leiti quenti”. Um réptil comum em todo o Brasil é chamado de “osga” na região Norte, “briba” ou víbora” no Nordeste, e “largatixa” no Centro-Sul (Camacho, Roberto Gomes, p.59).

Desse modo, temos aqui três parâmetros: um parâmetro social, um parâmetro histórico e um parâmetro geográfico, e a língua conhece variações em três eixos: variações diastráticas (correlatas aos grupos sociais), variações diacrônicas (correlatas às faixas etárias), variações diatópicas (correlatas aos lugares) (Calvet, Louis-Jean, p.111).

No entanto, neste trabalho, restringirei-me a discustir somente a variação diatópica, ou, mais precisamente, os dialetos.

2) A variação diatópica: os dialetos, os falares, os sotaques

A variação diatópica ou geográfica está ligada ao espaço geográfico de origem do falante. Essa variedade é responsável pelos chamados regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais. (Almeida, Nukácia Meyre de A.; Zavam, Aurera S., p.245)

O termo “dialeto”, segundo informa Calvet (1993b), apareceu pela primeira vez na literatura francesa em 1565, num texto de Ronsard, com o sentido de “falar de uma região”. Dentro de um mesmo país como o Brasil, podemos admitir a existência de vários dialetos, entre os quais o carioca, o cearense, o caipira, etc.

A delimitação de um dialeto não é tarefa fácil. A título de ilustração, se pensarmos no caso do Ceará, veremos que a expressão “dialeto cearense” pode ser inadequada, visto que há localidades, como a região do Cariri, que contêm traços não pertinentes em outras (por exemplo, a dentalização do /t/ e do /d/ antes da vogal /i/). Por esse e outros motivos, utiliza-se com freqüência, em vez de “dialeto”, a expressão “falar cearense”.

Costuma-se dizer que o dialeto é uma variedade subordinada a uma dada língua, que assim seria entendida como a soma de vários dialetos. Em geral, entende-se que um dialeto se circunscreve a uma zona ou região territorial, que freqüentemente coincide com as fornteiras ou barreiras geográficas, tais como rios ou montanhas. Mas, quando se tenta estabelecer limites entre diferentes dialetos, corre-se o risco de se considerar muito mais os fatos sociais do que os lingüísticos. Assim, se pensarmos no caso da língua portuguesa, não seríamos capazes de dizer quantos dialetos ela possui.

O mesmo caso acontece com o termo “língua”. O holandês e o alemão são conhecidos por serem duas línguas distintas, mas em alguns lugares, ao longo das fronteiras da Holanda e da Alemanha, as variedades faladas em cada lado limítrofe são extremamente similares. Se se decide dizer que as pessoas de um lado da fronteira falam alemão e as do outro, holandês, essa escolha está novamente colocando os fatores político-sociais acima dos lingüísticos.

Hudson (1984), ao questionar sobre a diferença entre língua e dialeto, apresenta os seguintes critérios:

a) o tamanho, porque os dialetos são partes ou subconjuntos da língua;

b) o prestígio, porque os dialetos em geral são variedades menos prestigiosas do que a língua;

c) a mútua inteligibilidade, por que, se os falantes se entendem, isso significa que estão usando a mesma língua, mas não necessariamente o mesmo dialeto.

Todavia, as restrições a esses critérios são bastante sérias. Em primeiro lugar, há línguas assim consideradas que são semelhantes a pontos de se tornarem perfeitamente inteligíveis, sem que sejam classificadas como simples dialetos. O galego, falado na Galícia, hoje é uma das línguas oficiais da Espanha e, entretanto, pode muito bem ser compreendido por um brasileiro ou um português ou até por um espanhol. Em contrapartida, diz-se que os dialetos do chinês são ininteligíveis entre si e, apesar disso, não são reconhecidos como línguas autônomas.

Diante disso, temos que concluir que não há nenhuma distinção válida entre língua e dialeto. O que faz que uma variedade passe a ser considerada como língua é uma decisão puramente política.

Considerando-se agora fatos puramente lingüísticos, costuma-se estabelecer uma nova oposição: a que existe entre sotaque e dialeto. Este se refere a diferenças que dizem respeito a vocabulário, sintaxe e também pronúncia. O sotaque refere-se apenas a diferenças de pronúncia. Isso é o que afirmam vários pesquisadores, entre os quais Chambers & Trudgill (1993):

O sotaque se refere à maneira como um falante pronuncia e, por conseguinte, a uma variedade que é foneticamente e/ou fonologicamente distinta de outras variedades. O dialeto, por outro lado, se refere a variedades que são gramaticalmente (e talvez lexicalmente) tanto quanto fonologicamente distintas de outras variedades.

É oportuno também refletir que, face ao termo “língua”, o vocábulo “dialeto” guarda alguma conotações negativas. Assim sendo, para evitar essas conotações, diversos autores preferem substituí-lo pela expressão neutra “variedade lingüística”. (____. Para compreender Labov. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000.)

Para ilustrar o conceito de dialeto, farei a partir de agora uma pequeno esboço da variação dialetal no Japão.

3) A variação dialetal no Japão

Embora apresente um território relativamente pequeno, O Japão possui uma grande variação dialetal. Um fator que talvez tenha contribuído para essa profusão de dialetos é o fato de o país ser um arquipelágo e de possuir um território bastante montanhoso (cerca de 80% do território japonês é composto por montanhas), o que dificultou por um longo período o intercâmbio entre os povos de várias regiões, favorecendo, assim, uma longa história de isolamento interno e externo do país.

Alguns desses dialetos são tão diferentes, como os das Ilhas Ryūkyū no extremo sul do Japão, que podem ser confudidos, muitas vezes, como uma língua estrangeira por japoneses de outras regiões. Como exemplo, temos as seguintes frases que são ditas de uma maneira em Tóquio e de outra em Okinawa, embora tenham o mesmo significado (“Eu sou japonês”):

Tóquio: “Watashi wa nihonjin desu”.

Okinawa: “Nā ya yamatuchu dēbiru”

Segundo o Dicionário NHK de Acentuação da Língua Japonesa (NHK Nihongo Hatsuon Akusento Jiten), a língua japonesa apresenta duas grandes classificações: o Hondo-hōgen (dialeto do Território Principal) e o Ryūkyū-hōgen (dialeto das Ilhas Ryūkyū). Essas duas classificações apresentam ainda as seguintes subclassificações: o Hachijō-hōgen (dialeto das ilhas Hachijō), o Tōbu-hōgen (dialeto do Leste), o Seibu-hōgen (dialeto do Oeste) e o Kyūshū-hōgen (dialeto das Ilhas Kyūshū) para o Hondo-hōgen, e o Kita-Ryūkyū-hōgen (dialeto das Ilhas Ryūkyū do Norte) e Minami- Ryūkyū-hōgen (dialeto das Ilhas Ryūkyū do Sul) para o Ryūkyū-hōgen, conforme podemos ver na gravura seguinte:

Se levarmos em consideração aspectos gramaticais, fonéticos e lexicais mais minunciosos, podemos ter, ainda, outras subdivisões que podem ser esquematizadas da seguinte maneira:


4) O Ryūkyū-hōgen

Como vimos, uma grande parcela da população japonesa usa os dialetos do Hondo-hōgen, enquanto somente cerca de 1% da população usa os dialetos do Ryūkyū-hōgen.

O que levou os dialetos do Ryūkyū-hōgen a serem considerados como tais e não como Hondo-hōgen foi uma série de fatores, mas principalmente por diferenças fonéticas e lexicais. Não é raro encontrar japoneses de outras regiões que percebem o Ryūkyū-hōgen como se fosse uma língua estrangeira. Isto se explica principalmente pelas diferenças existentes nas suas sílabas. Diz-se que a língua japonesa possui 5 vogais: a, e, i, o, u. No entanto, no Ryūkyū-hōgen, temos basicamente só três vogais: a, i, u. É por isso que falantes de Okinawa ao pronunciarem palavras como kumo (nuvem) e ame (chuva), as pronunciam como /kumu/ e /ami/, respectivamente. Além disso, algumas sílabas como YI, YE, WI, WE e WU, existentes no Ryūkyū-hōgen, são consideradas de difícil pronúncia por japoneses de outras regiões.

Os dialetos do Ryūkyū-hōgen também têm muito em comum com o japonês arcaico. Palavras como toji (esposa) e tsuburi (cabeça), hoje consideradas arcaísmos e que caíram em desuso, ainda hoje são usadas por falantes de Okinawa, pronunciadas como /tuji/ e /chiburu/, respectivamente.

Além disso, durante um longo período na história, a região de Okinawa sofreu grande influência de outros povos da Ásia, como o chinês, o filipino e o malaio, e isso acabou influenciando o Ryūkyū-hōgen também. Palavras como patai (morte), de origem filipina, é um exemplo disso.

Outra influência que vale a pena ressaltar foi a dos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, Okinawa foi invadida por tropas norte-americanas que permaneceram lá no pós-guerra. Como consequência, algumas palavras da língua inglesa acabaram sendo inseridas nesses dialetos. Por exemplo: aisuwārā (ice water), kōhīshāpu (coffe shop), pēdē (pay day), nōgū (no good), etc.

Porém, vale ressaltar que cada vez menos pessoas estão falando o dialeto e pode-se dizer que o Ryūkyū-hōgen hoje está passando por uma crise.

Desde que o reino de Ryūkyū foi anexado pelo governo japonês no ano de 1879, o Ryūkyū-hōgen se tornou objeto de discriminação sendo considerado ultrapassado. Nessa época, as escolas passaram a ensinar a língua japonesa padrão e o Ryūkyū-hōgen passou a ser visto como algo prejudicial, resultando em medidas como a proibição do seu uso dentro das escolas.

Madekawa Manabu (2003) conta que os alunos que eram vistos falando o Ryūkyū-hōgen dentro das escolas tinham que pendurar no pescoço uma placa informando que eles usavam o Ryūkyū-hōgen e ainda recebiam como punição ter que encontrar um outro aluno que também tivesse usado o dialeto.

Durante a Segunda Guerra, a província de Okinawa, por detrás de um nacionalismo extremo, vivenciou até uma espécie de movimento de eliminação do Ryūkyū-hōgen. Chegou-se ao cúmulo de aqueles que falavam o Ryūkyū-hōgen serem executados por serem considerados espiões ou traidores da nação.

Mesmo com o fim da guerra, o Ryūkyū-hōgen ainda teve que enfrentar outro vilão: a televisão. Todas as transmissões televisivas eram feitas na língua padrão e, como conseqüência, muitas pessoas começavam a esquecer o Ryūkyū-hōgen. Esse não foi um problema que afetou só Okinawa, mas também outras regiões.

Hoje em dia, algumas pessoas vendo a crise na qual mergulhou o Ryūkyū-hōgen e com medo de que ele desapareça, passaram a ensiná-lo nas escolas como forma de preservá-lo.

5) O declínio dos dialetos

Sanada (1989) comenta sobre o declínio que os dialetos do Japão estão passando. Segundo ele, hoje em dia muitos estão aflitos com medo que os dialetos sumam. Dentre os muitos casos de declínio de dialetos, os mais comuns são os seguintes:

a) Os dialetos vão deixando de ser usados, dando espaço à língua padrão;

b) Os dialetos vão sendo esquecidos.

São muitas as causas que levam os dialetos a entrarem em declínio. Uma delas seria o fato de a sociedade ter se reestruturado quando se tornou globalizada no pós-guerra. Antigamente, as pessoas viviam em grupos isolados cada um na sua região. Esses grupos se mantinham, assim, isolados e, conseqüentemente, suas línguas sempre estavam em constante contato com os membros do mesmo grupo. Porém, esses grupos sociais foram se desmembrando e através de mudanças como o desenvolvimento dos meios de transporte, aos poucos cada vez menos pessoas ficavam presas vivendo no mesmo lugar. As palavras que eram comuns a todas as pessoas de uma mesma região foram deixando de ser usadas, restando somente as palavras que eram usadas no círculo familiar delas. É fato, que a variação do que chamamos de “língua comum” depende da educação nas escolas, do rádio, da televisão e de outros meios de comunicação em massa, mas foram mudanças básicas na vida como essas que mais contribuiram para o declínio dos dialetos.

Por outro lado, pode-se dizer que palavras tidas como não-padrões, por expressarem algo que só é característico da vida ou da natureza de um certo lugar, não deixariam de existir. Por exemplo, em regiões montanhosas onde nevam bastante no Japão, como na província de Toyama, existem muitas palavras que expressam ou fazem referência a neve (yuki em japonês), como podemos observar abaixo:

Iki – neve;

Ōiki – neve em grande quantidade;

Koiki – neve em pequena quantidade;

Kogomeiki – neve fina;

Botaiki – neve grossa;

Akaiki – neve de cor amarronzada que cai no início da primavera;

Bechaiki – neve com bastante concentração de água;

Ikibana – cristal de neve;

Ikifuri – cair da neve;

Sukasukaburi – nevada que num piscar de olhos cobre tudo de neve;

Fuburi – tempestade de neve;

Nadare – avalanche;

Awa – avalanche de superfície;

Shimishimi – camada de neve congelada;

Shimishimi banban – camada de neve congelada;

Garigari – camada de neve congelada;

Sōra – camada de neve congelada;

Hatsuiki – primeira nevada;

Neiki – neve que fica sem derreter até a primavera;

Nokoriiki – neve que fica;

Kinomataiki – neve acumulada nas árvores;

Yaneiki – neve que se acumula no telhado.

Além disso, podemos encontrar, também, inúmeras palavras que fazem referência ao mar dentro de alguns grupos sociais dedicados à pesca de pequeno porte. Na província de Tottori, quando a superfície do mar está totalmente parada sem nenhuma onda, eles o chamam de “aburanagi” ou “betanagi”, e nessas circunstâncias, como não conseguem pegar quase nenhum peixe, ficam zangados e podem chamá-la de “butanagi” também. Sobre esta última, o “buta” de “butanagi” significa “porco”, e é como se estivessessem xingando a “betanagi”, ao mesmo tempo que fazem um trocadilho entre essas duas palavras.

Estes são exemplos de expressões que já entraram no cotidiano das pessoas dessas sociedades. Existem pessoas que acreditam que essas e outras palavras não deixarão de existir e continuarão a serem herdadas pelas próximas gerações. Apesar disso, vendo as crianças de hoje em dia que quase não saem de casa, que só dependem dos livros para estudar e que passam o dia jogando video game, Sanada se pergunta se palavras como essas do cotiano conseguirão ou não atravessar o tempo e serem transmitidas para outras gerações. Sobre este ponto, os autores o vêem com bastante pessimismo.

6) O preconceito lingüístico e os dialetos

Anteriormente foi comentado algo sobre a variedade padrão de uma língua. Gostaria agora de aprofundar um pouco mais essa questão.

Com um número tão grande de dialetos acaba-se elegendo uma variedade que seja a padrão, ou seja, a variação modelo que todos aqueles pertencentes de uma mesma nação devem aprender para se comunicar com maior clareza. Essa variedade, na maioria das vezes, coincide com aquela falada pelas classes sociais mais altas, de determinadas regiões geográficas, ou melhor, coincide com a variedade lingüística falada pela nobreza, pela burguesia, pelo habitante de núcleos urbanos, que são centros do poder econômico e do sistema cultural predominante.

A partir da criação de uma norma-padrão da língua, surge o preconceito língüístico, onde a norma é vista como sendo “melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” do que as outras. Uma pessoa falante de um dialeto não-padrão com freqüência é vista como ignorante, analfabeta, ou até mesmo burra.

Segundo Marcos Bagno (2003), o preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe uma única língua, que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”. Ele comenta ainda sobre a forma como a televisão trata a fala características de certas regiões, dizendo que “É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador.”

Em termos científicos não há nada que possa fundamentar a superioridade ou inferioridade de uma forma de falar em relação a outras. Se o falar do campo é visto como errado ou inferior face à norma dita culta ou língua-padrão, isto é apenas um julgamento social motivado pro preconceitos. Os dialetos não são mais “bonitos” ou “melhores” por si só, é preciso que lhes dê um valor social qualquer, pois é justamente este valor social que é exaltado (no caso do dialeto padrão) ou rejeitado (no caso do dialeto não-padrão). Dizer Cráudia, praca, pranta é um exemplo disto. As pessoas que dizem essas palavras pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada “feia”, “pobre”, “carente”, quando na verdade é apenas diferente da língua ensinada na escola.

7) A variação dialetal e o ensino de línguas

Segundo Bagno (1999), o ensino de língua materna, no caso do Brasil, é feito com base em dogmas, preconceitos e regras que nada têm de científicas. Fomos habituados a aprender e a ensinar português como se a língua fosse uma coisa imóvel, pronta, acabada, estática, sem nenhuma possibilidade de mudança, variação, transformação.

Para os gramáticos tradicionalistas, o “certo” é o “certo” e acabou. Tudo o que escapa desse conceito de “certo” é considerado “errado”, “feio”, “estropiado”, “corrupto”, etc. E assim se instala um terrível preconceito lingüístico na maneira de ensinar português.

Para exterminar esse preconceito, antes de mais nada, é preciso acabar com o mito de que existe uma “língua-padrão”. Quando nos referimos a uma variedade de língua, é preciso também, obrigatoriamente, nos referirmos aos seres humanos que falam essa variedade, e no caso do padrão não estamos falando de uma variedade de língua viva. O padrão é sempre um modelo, uma referência, uma medida, um critério de avaliação. Existe um conjunto enorme de regras para o uso da língua que compõem uma norma, um padrão, mas que, na realidade, não é uma variedade, pois ninguém obedece rigidamente a todas aquelas regras ali prescritas, nem mesmo o falante mais culto, mais escolarizado, mais preocupado em controlar sua fala ou sua escrita.

O autor afirma que não está questionando a importância de se ensinar o padrão. Ensinar o padrão se justificaria pelo fato dele ter valores que não podem ser negados. Em sua estreita associação com a escrita, ele é o repositório dos conhecimentos acumulados ao longo da história. Esses conhecimentos, assim armazenados, constituiriam a cultura mais valorizada e prestigiada, de que todos os falantes deveriam se apoderar para se integrar de plenos direito na produção, condução e transformação da sociedade de que fazem parte. Entretanto, o ensino do padrão não necessita ser substituivo e, por isso, não implica a erradicação do dialeto marginalizado.

No caso do ensino de uma língua estrangeira, é inquestionável o fato de que é inviável ensinar todas as variantes dialetais de uma língua para um estrangeiro que está aprendendo esse idioma. Mas será que é correto ignorar todas essas variedades dialetais e ensinar somente o padrão? Não estaríamos contribuindo, desta forma, com o preconceito lingüístico? Não estaríamos privando os aprendizes de língua estrangeira de terem acesso à compreensão de diversas manifestações culturais de regiões onde se falam esses dialetos, como, por exemplo, teatro, cinema, música, produções escritas, etc? E caso esses aprendizes visitem essas regiões, será que não teriam problemas para se comunicar com os falantes desses dialetos?

Para responder a estas e outras questões, deixo aqui essa sugestão de pesquisa.

Fontes

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística. São Paulo: Contexto, 2001.

MUSSALIN, Fernanda; BENTES, Anna Christina (orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortcz, 2001.

CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.

ALMEIDA, Nukácia Meyre de A.; ZAVAM, Aurera S (orgs.). A língua na sala de aula: questões práticas para um ensino produtivo.

____. Para compreender Labov. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000.

NHK Nihongo Akusento Jiten (Dicionário da NHK de Acentução da Língua Japonesa). Nova Edição. NHK Housou Bunka Kenkyūsho.

KADEGAWA, Manabu. Tabi no Yubisashi Kaiwachō Kokunaihen 1 Okinawa (Guia de Conversação para Viagens Nacionais - 1 Okinawa). Tokyo: Jōhō Center, 2003.

SANADA, Shinji. Nihongo no Bariēshon (A Variação da Língua Japonesa). Tokyo: Aruku, 1989.


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